Outubro Rosa: entrevista com a médica mastologista Viviane Rigoni sobre a campanha de conscientização
14 de outubro de 2020
O Outubro Rosa é uma das maiores campanhas de conscientização do mundo. Para reforçar a importância da prevenção ao câncer de mama, entrevistamos a médica mastologista Viviane Rigoni. Na entrevista, que você confere na íntegra abaixo, a Dra. Rigoni explicou no que consiste a campanha, quais os principais sintomas da doença e as possíveis formas de prevenção.
Leia a entrevista na íntegra:
Pergunta: o que é e qual a importância da campanha do Outubro Rosa?
Resposta: o Outubro Rosa é uma campanha mundial de conscientização sobre o Câncer de Mama. Surgiu em 1990 quando o laço cor de rosa foi lançado pela Fundação Susan Komen for The Cure. Na ocasião os laços foram distribuídos aos participantes da primeira Corrida pela Cura, realizada em Nova Iorque, a qual ocorre anualmente desde então. O movimento foi crescendo e os Estados Unidos instituíram Outubro como o mês da conscientização nacional sobre o Câncer de Mama.
A popularidade do Outubro Rosa alcançou o mundo de uma forma elegante e bonita, fazendo da iluminação rosa uma leitura visual compreendida em qualquer lugar. No Brasil, a primeira ação ocorreu em 02 de outubro de 2002 com a iluminação do Monumento Mausoléu do Soldado Constitucionalista (mais conhecido como o Obelisco do Ibirapuera), em São Paulo.
Atualmente, no mundo todo, os monumentos, prédios públicos e teatros são iluminados na cor rosa e as pessoas usam os laços, a fim de alertar sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do Câncer de Mama.
Quais são os sintomas mais comuns do câncer de mama?
O sintoma mais comum do câncer de mama é a presença de um nódulo, na maioria das vezes indolor e endurecido.
Outras manifestações clínicas também podem ocorrer, tais como:
- edema da pele (inchaço) da mama, mesmo que na ausência de um nódulo
- abaulamento de uma parte da mama
- inversão do mamilo
- hiperemia (vermelhidão) da pele
- espessamento ou retração da pele ou do mamilo
- descarga papilar sanguinolenta ou em água de rocha (transparente) pelos mamilos
- linfonodos axilares aumentados
Quais são alguns dos fatores de risco?
O câncer de mama não tem uma única causa. Vários fatores podem aumentar o risco de desenvolver a doença, tais como:
- Fator etário (idade): mulheres mais velhas, em especial acima de 50 anos, devido ao acúmulo de estímulos ao longo da vida e às alterações biológicas relacionadas ao envelhecimento;
- Fatores endócrinos relacionados à maior exposição estrogênica: menarca precoce (primeira menstruação antes dos 8 anos de idade), menopausa tardia (última menstruação após os 55 anos), primeira gestação após os 30 anos, nuliparidade (não ter tido filhos), terapia de reposição hormonal por período prolongado;
- Fatores ambientais e comportamentais:
- ingestão de bebida alcoólica,
- sobrepeso e obesidade;
- tabagismo: atualmente o tabagismo é reconhecido pela International Agency for Research on Cancer (IARC) como agente carcinogênico com limitada evidência de aumento do risco de câncer de mama em humanos
- radiação ionizante: o risco é proporcional à dose e à frequência, com maior risco àquelas mulheres expostas à radioterapia torácica em idade jovem.
- Fatores genéticos/hereditários estão relacionados às mutações em alguns genes, em especial BRCA1 e BRCA2. Correspondem a 10% de todos os casos de câncer de mama. Mulheres que possuem vários casos de câncer de mama e/ou pelo menos um caso de câncer de ovário em parentes consanguíneos, sobretudo em idade jovem, ou câncer de mama masculino também em parente consanguíneo, podem ter predisposição genética e são consideradas de maior risco para a doença.
Quando a realização dos exames de diagnóstico é indicada?
Para pacientes com queixas mamárias e/ou alterações no exame físico, os exames são indicados a depender destes achados e, na maioria das vezes a investigação se inicia por mamografia e ultrassonografia mamária. Para pacientes sem sintomas e exame físico normal, propõe-se o rastreamento por imagem do câncer de mama, o qual é baseado na idade e nos fatores de risco das pacientes.
- Mulheres com baixo risco para câncer de mama: mamografia anual, com técnica digital preferencialmente, entre 40 e 74 anos. Acima de 75 anos, deve-se manter a mamografia anual enquanto a mulher estiver com boa saúde e expectativa de vida de, pelo menos, sete anos. A ultrassonografia mamaria deve realizada a fim de complementar achados inconclusivos à mamografia e, também, para pacientes com mamas densas, pois neste grupo a mamografia tem sensibilidade reduzida e pode ocultar pequenas lesões. A ressonância magnética das mamas é indicada quando estes dois métodos apresentarem achados que mereçam avaliação adicional.
- Mulheres com alto risco para câncer de mama (pacientes com mutação genética, com risco maior ou igual a 20% de câncer de mama ao longo da vida devido ao histórico familiar e aquelas com antecedente de irradiação torácica): mamografia anual, com técnica digital preferencialmente, a partir dos 30 anos associado à ressonância magnética das mamas. Em caso de impossibilidade de realizar ressonância, pode-se lançar mão da ultrassonografia mamária.
A realização da mamografia na periodicidade recomendada reduz em aproximadamente 40% a mortalidade por câncer de mama, sendo o único método efetivo na redução da mortalidade por essa doença. Deve-se ressaltar a importância do rastreamento mamográfico pois a detecção precoce do câncer de mama, antes de se tornar uma lesão palpável, melhora o prognóstico da doença e aumenta as chances de cura.
Como funcionam os tratamentos?
O tratamento do câncer de mama é realizado com uma equipe multidisciplinar, envolvendo os médicos mastologistas, oncologistas clínicos, cirurgiões plásticos e radioterapêutas, além de enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e fisioterapeutas. Em linhas gerais existem 4 etapas no tratamento: cirurgia, quimioterapia, radioterapia e endocrinoterapia.
O tratamento cirúrgico e quimioterápico varia em ordem de acontecimento a depender do estágio da doença e das características de cada subtipo tumoral. Tumores avançados ou com características biológicas agressivas na maioria das vezes se beneficiam de quimioterapia neoadjuvante (aquela que antecede a cirurgia).
As indicações de quimioterapia, radioterapia e endocrinoterapia adjuvantes (aquelas que ocorrem após a cirurgia) dependem do resultado anatomopatológico da peça cirúrgica e, novamente, das características biológicas do tumor.
Existem hábitos que possam diminuir os riscos de desenvolver a doença?
O câncer de mama é o tipo de câncer que possui a maior incidência e a maior mortalidade na população feminina em todo o mundo, tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos. A prevenção primária dessa neoplasia (medidas que efetivamente evitem seu aparecimento) ainda não é totalmente possível devido à variação dos fatores de risco e aspectos genéticos envolvidos na sua etiologia.
Entretanto devemos nos atentar aos aspectos que ajudam a diminuir o risco de desenvolver o câncer de mama, entre eles:
- Alimentação saudável
- Manter um peso adequado
- Praticar exercícios físicos regularmente
- Evitar a ingestão de bebida alcoólica mesmo que em quantidade moderada
- Promover o aleitamento materno
- Reduzir os níveis de estresse
- Manter a qualidade do sono
- Evitar o tabagismo: a literatura recente mostra uma associação, embora não tão importante, do tabagismo com o câncer de mama, especialmente em mulheres que fumam por muito tempo ou que iniciaram o tabagismo antes da primeira gestação (esse risco está associado à duração, intensidade e exposição acumulada).