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Setembro Amarelo: entrevista com a psiquiatra Bianca de Vargas sobre a importância de falar de prevenção ao suicídio

17 de setembro de 2020

 

Se falar de suicídio não é fácil, de acordo com muitos especialistas no assunto isso pode ser um indício de que abordá-lo é ainda mais importante. Por isso, a exemplo do que ocorre com as campanhas do Outubro Rosa (campanha de conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e do câncer de colo do útero) e Novembro Azul (campanha de incentivo a realização de exames preventivos ao câncer de próstata), o mês de setembro já ficou conhecido por ser o período anual em que as discussões em torno do tema se fazem mais presentes na mídia. É o Setembro Amarelo.

Para entender melhor as delicadas questões que envolvem o tema, a Fapers entrevistou a médica psiquiatra Bianca Delgado Busnello de Vargas, pós-graduada em Psiquiatria. Confira abaixo a entrevista na íntegra!

 

Pergunta – O que é o Setembro Amarelo?

Resposta – Setembro Amarelo é uma campanha nacional para prevenção do suicídio iniciada em 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e Conselho Federal de Medicina (CFM). O dia 10 de setembro foi escolhido como o Dia de Prevenção do Suicídio, mas ao longo de todo o mês de setembro há atividades voltadas para conscientização e prevenção do suicídio.

 

O tema do suicídio ainda é pouco abordado. Isso torna um pouco mais difícil de falar sobre ele. Que tipo de abordagens você considera mais adequadas?

O assunto é pouco abordado por falta de informação e pelo desconhecimento dos sinais que podem levar ao suicídio. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 800 mil pessoas morrem por ano por suicídio no mundo. No Brasil, o suicídio é causa de 12 mil mortes por ano. Sendo assim, percebe-se a necessidade de esclarecimento à população sobre essa realidade.

Acredito que a informação possa diminuir o preconceito sobre as doenças mentais e talvez isso faça diferença na busca por tratamento.  Quando alguém está passando por um momento de ideação suicida, essa pessoa deve saber que não está sozinha e que pode contar com a ajuda de familiares e amigos para buscar um atendimento o mais breve possível.

 

É possível falar em algum tipo de prevenção ao suicídio?

A prevenção ao suicídio começa com o reconhecimento dos fatores de risco e os sinais que podem levar à tentativa de tirar a própria vida. Quando existe esclarecimento e informação, o preconceito e o medo de falar sobre o assunto diminuem.

Algumas doenças mentais podem levar a esse tipo de pensamento (como casos depressivos graves, transtornos psicóticos, etc.) ou abuso de substâncias psicoativas (álcool ou drogas). 

 

Existem alguns sinais que uma pessoa costuma apresentar que podem indicar que ela possa vir a tirar a própria vida? Ao perceber alguns desses sinais, como podemos ajudar?

Existem alguns sinais que chamamos de “comportamento suicida”, mas sabemos que apenas uma pequena parte desse comportamento chega a nosso conhecimento. O comportamento suicida inclui pensamentos, planos e tentativas de morte. Esta situação tem determinantes multifatoriais (fatores psicológicos, biológicos, genéticos, culturais e socioambientais) podendo ter o desfecho de morte ou não.

Os fatores de risco e sinais de alerta podem ser transtorno mental, uso de drogas, tentativa de suicídio prévia, fatores estressores (luto, falência), organização de detalhes práticos (testamento, doação de posses importantes), mensagens de despedidas (redes sociais, cartas, bilhetes), acúmulo de comprimidos, posse de arma, história de doença em fase terminal (doença degenerativa, câncer etc).

Ficar alerta com comentários do tipo: “acabar com a dor”, “final mais rápido para o meu sofrimento”, “não tenho mais esperança”.

Ao se observar sinais de sofrimento emocional, deve-se procurar atendimento de profissional da área da saúde (médicos, psiquiatras, psicólogos). Caso haja dificuldade para tal acesso, deve-se buscar atendimento em pronto-atendimento, UPA 24h, CAPS ou Centro de Valorização da Vida (CVV) que possui atendimento telefônico 24h por dia (número 188).

Se houver tentativa de suicídio deve-se procurar atendimento de urgência ou chamar o SAMU (192).

 

De que forma podemos agir para cuidar de nossa saúde mental, para não cultivar esses sintomas?

 Sempre digo que saúde deve englobar corpo, mente e espírito.

– Para o corpo: alimentação saudável, rotina de sono, atividade física regular, uso de medicações quando necessárias.

– Para a mente: leituras, passeios ao ar livre, convivência social (mesmo que à distância em tempos de pandemia), hobbies (artesanato, tricô, crochê, jardinagem), psicoterapia.

– Para o espírito: ter fé (independentemente de religião ou crença).

 

Que práticas as empresas e instituições podem adotar para manter ambientes saudáveis aos seus funcionários?

Ambientes agradáveis, respeito aos horários de intervalo/descanso, ginástica laboral, acesso a atendimento médico e psicológico.

 

A psiquiatra gentilmente permitiu a divulgação de seu e-mail, para caso alguém possua outras dúvidas não respondidas nessa entrevista: bianca.delgadobusnello@gmail.com