Panorama: O Golpe na Bolsa de Londres
21 de dezembro de 202020 de dezembro de 2020
Marco Antônio dos Santos Martins(*)
A família Rothschild estabeleceu uma das mais poderosas dinastias bancárias na Europa. A família prosperou no fim do século XVII, chegando a ultrapassar os rivais da época, como a família Baring e a família Berenberg. Acredita-se que quando a família estava no seu auge, no século XIX, possuía a maior fortuna privada no mundo.
Dentre os vários boatos e teorias conspiratórias envolvendo a família Rothschild, conta-se que Nathan Rothschild, que operava a casa bancária da família em Londres, arquitetou, em 20 de junho de 1815, o golpe que se tornou conhecido como o “Golpe da Bolsa de Londres”. Nathan teria manipulado os preços das ações para amealhar expressivos lucros, nas vésperas do desfecho da batalha de Waterloo, quando o Imperador Napoleão foi derrotado pelos exércitos aliados da Sétima Coligação que incluíam a Inglaterra, a Prússia, a Rússia e a Áustria, contra a França. A história foi recentemente analisada e classificada como completa difamação pelo jornal inglês Independent.
Na época, era comum que os grandes banqueiros emprestassem dinheiro aos diferentes lados envolvidos nos conflitos. A família Rothschild controlava a maior parte destes bancos e o poderio da rede de comunicações era tão grande que poderia ser comparado a um serviço de espionagem muito mais eficiente que o de qualquer país europeu. A família contava inclusive com o auxílio de pombos-correios para transmitir informações.
Os irmãos Rothschild que estavam estabelecidos nos principais centros financeiros Europeus (Londres, Viena, Paris, Frankfurt e Nápoles) desenvolveram uma rede de agentes, transportadores e correios para o transporte de ouro por todo o continente. A rede da família possibilitou a Nathan Rothschild obter informações políticas e financeiras à frente de seus pares, proporcionando-lhe uma vantagem no mercado financeiro.
Um exemplo desta dinâmica de trabalho pode ser constatado quando o Clã Rothschild colocou um homem chave perto da batalha, para que, quando ocorresse o desfecho, avisasse imediatamente a família. A informação transmitida por meio de um pombo-correio que chegou antes da mensagem oficial do exército britânico.
Desta forma, os Rothschilds souberam antes de todos que a Inglaterra havia vencido a batalha. A Bolsa de Londres vivia um momento de extrema incerteza, aguardando o resultado da batalha: caso a França ganhasse, os papéis despencariam abruptamente; se a Inglaterra vencesse, subiriam à estratosfera.
Nathan Rothschild, no entanto, deu instruções a seus agentes para divulgar que a França de Napoleão tinha ganho a batalha e foi para a Bolsa vendendo suas posições de ações e validando a falsa interpretação da vitória de Napoleão. Em poucos minutos, todos acompanharam o movimento, vendendo freneticamente suas ações e derrubando os preços.
Os agentes dos Rothschilds, rapidamente, começaram a recomprar os títulos por uma fração mínima do seu valor. Na sequência, a verdadeira notícia da vitória inglesa chegou ao mercado e os preços subiram, fazendo os Rothschild lucrarem. Em uma ocasião, o banqueiro gabou-se de ter, nos 17 anos que passou na Inglaterra, multiplicado as 20 mil libras que recebera do pai por 2500 vezes.
Em outro momento, Nathan Rothschild calculou que a futura redução do endividamento do governo, provocada pela paz, criaria um salto no preço dos títulos do governo britânico. Esse episódio, foi descrito como um dos movimentos mais audaciosos da história financeira: Nathan comprou títulos do governo, para após dois anos, vendê-los no pico do mercado em 1817.
Adiante, por conta de todos os países europeus estarem endividados e empobrecidos, em razão da grande devastação de longas e variadas guerras que se seguiram à Revolução Francesa, os Rothschild descobriram que emprestar dinheiro a governantes era muito mais rentável do que emprestá-lo apenas a particulares.
Em 2020, um ano particularmente atípico, os gestores e investidores foram levados a interpretar rapidamente as informações disponíveis e as múltiplas alterações de cenários, tomando decisões nas alocações de carteiras em meio às incertezas advindas da pandemia e seus efeitos sobre a economia e preços de ativos. Para suportar o processo de tomada de decisão, o mercado foi pródigo em buscar ferramentas para analisar diversas bases de dados, desde sofisticados algoritmos matemáticos, até comitês de experts em economia e finanças, bem como em epidemogia.
Assim, em meio ao vertiginoso avanço da segunda onda da Covid-19 pelo mundo, às notícias de uma nova cepa da Covid-19, bem como à divulgação dos planos de vacinação dos principais países do hefismério norte, os investidores precisam ficar muito atentos à qualidade da informação que estão utilizando para suportar o seu processo de tomada de decisão, a fim de se protegerem de informações enviesadas.
A bolsa brasileira nesta semana continuou a sua tendência de alta, acompanhando o comportamento no exterior, em que pese o futuro incerto da economia brasileira tenha provocado o descolamento do exterior em alguns momentos. No entanto, o fluxo de capital estrangeiro continuou forte. Na sexta-feira (18), prevaleceu a lógica das últimas semanas, com o mercado operando em alta a maior parte do tempo, mas perdendo força no encerramento, alinhado à aceleração das perdas em Nova York. Mesmo assim, o IBOVESPA continua perseguindo o recorde do ano (119.528 de 23 de janeiro), fechando a semana em 118.024 pontos, com alta de 2,5% na semana e 8,4% no mês.
O dólar ptax por sua vez, fechou a semana em R$ 5,0986, com uma pequena alta de 0,6% na semana e uma queda de 4,4% no mês.
Embora o fluxo de capital estrangeiro esteja mantendo o mercado animado, as preocupações com as “velhas novelas” locais começam a pesar no radar, dentre elas as discussões em torno da eleição da presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, bem como a ausência de um discurso uníssono em torno do plano de vacinação. Tais debates podem repercutir negativamente, com um aumento de aversão ao risco dos investidores no curto prazo.
(*) Professor do DCCA da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, Doutor em Administração, com ênfase em Finanças e Mestre em Economia pela UFRGS.