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PANORAMA: Isolamento Social: Até quando?

2 de abril de 2020

31 de Março de 2020
Marco Antônio dos Santos Martins(*)

O primeiro trimestre de 2020 se encerra em meio à pandemia do coronavírus, a maior crise sistêmica vivida pelo mundo desde as grandes guerras mundiais e a crise de 1929 e a crise de 2008, gerando um grande número de contaminados e mortos num curto espaço de tempo.

O isolamento social tem se mostrado a medida mais eficaz para controlar o rápido avanço da doença, visando “achatar a curva do contágio” e evitar um colapso maior nos sistemas de saúde e, por consequência, reduzir o número de contágios e óbitos.

Ao final de março aproximadamente 1/3 da população mundial está com algum grau de isolamento social, os mortos são contados aos milhares e os agentes econômicos tentam, de alguma forma, estimar a duração do tempo do isolamento social e os impactos no curto e médio prazo sobre o comportamento da economia.

O inédito e simultâneo choque de oferta e de demanda na economia global, tem exigido dos bancos centrais e dos governos rápidas respostas em termos de políticas monetárias e fiscais, que sejam capazes de proporcionar instrumentos de liquidez e crédito para que os agentes econômicos (consumidores, empresas e governos) consigam atravessar as incertezas do período de isolamento social com os menores prejuízos, sabendo que quanto maior for este período, maior serão os impactos.

Em linhas gerais, o mercado financeiro monitora atentamente o tempo de isolamento social, ponderado com a magnitude, amplitude e velocidade em que os incentivos governamentais serão implementados, pois o prolongamento desse período pode afetar a capacidade de endividamento dos agentes e a qualidade dos ativos dos bancos, transformando a pandemia em crise de crédito, sendo importantíssimo que os banco centrais estejam atentos para lançar mão de instrumentos similares àqueles da crise de 2008.

Dentre estas medidas, vale destacar a redução dos juros pelo FED, pelo Banco Central Americano, pelo Banco Central Europeu e pelo Banco da Inglaterra, que serão acompanhados por outros emergentes, além do pacote de incentivos aprovados pelo Congresso dos Estados Unidos de US$ 2,0 trilhões. O Brasil já reduziu a SELIC para 3,75% e anunciou um conjunto de incentivos monetários e fiscais que totalizam R$ 750 bilhões, ou 4,8% do PIB.

 Em estimativas muito preliminares os departamentos econômicos dos gestores de investimentos calculam que a economia americana pode experimentar uma retração do PIB entre 5% e 8% em 2020, com uma taxa de desemprego na faixa de 15%. Já para a economia brasileira, as estimativas sugerem uma retração entre 1 e 3,5% do PIB.

As pressões inflacionárias estão afastadas, pois a economia irá operar com baixa demanda, alta capacidade ociosa, elevado desemprego e queda de renda real. Além disso, a queda nos preços de petróleo tende a não pressionar os preços de energia, com a inflação deste ano podendo chegar perto de 2,5% no Brasil, abrindo espaço, para novos cortes das taxas de juros, com a taxa SELIC, podendo chegar a 3%.

Por outro lado, no caso brasileiro, os incentivos fiscais e monetários, bem como o aumento de gastos na saúde irá interromper a trajetória de queda do déficit público e redução da relação dívida/PIB, dificultando ainda mais a gestão das contas públicas, considerando que o mandato do Presidente e dos governadores se encaminha para a segunda metade, podendo gerar pressões no médio prazo sobre a curva de juros.

Já no que diz respeito ao mercado de ações, a tendência é que o mercado experimente uma recuperação nos preços dos ativos, obviamente, sendo mais seletivo, concentrando suas apostas naquelas empresas que possuem maior solidez financeira, liderança de mercado e capacidade de gestão para enfrentar o período de crise. A velocidade da recuperação estará também ligada ao tempo que perdurará o isolamento social, pois quanto maior for este tempo maior será o esforço de recuperação. Além disso, alguns setores mais estratégicos da economia, tendem a sofrer menos, tais como alimentos, energia elétrica, papel e celulose, setor financeiro e algumas empresas de varejo, que tiveram seus preços muito depreciados durante a crise.

Os investidores evitam prognósticos mais precisos, no entanto, muitos fundos de ações tiveram fortes ingressos de recursos no mês de março. Alguns gestores já arriscam projetar um IBOVESPA perto dos 90.000 pontos para o final de dezembro, mesmo considerando que incerteza é elevada e que a volatilidade pode persistir por mais algum tempo, acreditando que a melhor alternativa é manter a carteira diversificada em papéis de qualidade, olhando com racionalidade para a recuperação a médio e longo prazo.

Vale discorrer sobre a taxa de câmbio, onde se acredita que o maior afrouxamento da política monetária e fiscal americana, bem como uma atuação mais ativa do Banco Central brasileiro tendem a apreciar o Real frente ao dólar, na medida em que se dissipe um pouco o nível de incerteza global.

Finalmente, cabe salientar que a redução do nível de incerteza dos mercados está diretamente ligada às vitórias obtidas no controle do coronavírus, seja como resultado do isolamento social, seja no anúncio de medicamentos e/ou vacina, pois ao contrário de outros momentos, esta crise é resultado de uma crise sanitária e de saúde pública e não de eventos econômicos propriamente ditos.

(*) Professor do DCCA da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, Doutor em Administração, com ênfase em Finanças e Mestre em Economia pela UFRGS.