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O touro está cansado?

8 de setembro de 2020

 

*  Por Marco Antônio dos Santos Martins

Durante muitos anos o imaginário dos investidores foi alimentado com a sensação de que os ganhos no mercado de ações são produzidos única e exclusivamente pelos movimentos altistas e que, na guerra diária entre touros e ursos, todos torcem para os touros. Na década de 20, em Wall Street, se cultuou que torcer para o urso, apostando na queda do mercado, era anti-patriótico.

No cotidiano dos mercados, a briga entre o touro e o urso é saudável, produzindo vitórias alternadas entre comprados e vendidos. Assim, os grandes rallies de alta atraem o apetite dos ursos, enquanto depressões súbitas nos preços das ações atiçam os instintos de touros sedentos, gerando os seculares ciclos do mercado.

A guerra entre touros e ursos é amplificada quando os investidores podem combinar suas posições de compra e venda no mercado à vista com operações no mercado de derivativos.

O cinema, muitas vezes, se encarrega de ilustrar, de forma mais ou menos didática, os movimentos dos ursos, que ganham com a queda dos mercados. No filme Casino Royale (2006), por exemplo, o vilão monta uma operação para lucrar com a desvalorização de ações, vendendo posições de uma companhia fabricante de aviões no mercado de derivativos, planejando um atentado terrorista que provoque a queda das ações, gerando lucros expressivos com a desvalorização das ações.

Nas últimas semanas, o comportamento do mercado de ações mostrou-se saudável, fazendo com que os entusiasmados touros, compradores embriagados pela alta liquidez global, reavaliem suas posições, refaçam cálculos e olhem para os fundamentos, preparando-se para enfrentar o urso com novo fôlego.

Após fechar aos 63.570 pontos no dia 23 de março, o IBOVESPA arrancou em um forte movimento de alta até o dia 29 de março, quando atingiu 105.605 pontos, com uma valorização de 66,13%. A partir daí, o mercado passou refazendo contas, acompanhando os resultados das empresas, da economia real e, principalmente, o quadro fiscal brasileiro e as discussões políticas sobre os rumos da gestão fiscal e do comando do Ministério da Economia, com o touro perdendo fôlego e deixando o urso reinar até o dia de 17 agosto, quando o IBOVESPA fechou em 99.595 pontos, acumulando uma desvalorização de 3,22% no mês.

A construção de um entendimento entre o Palácio do Planalto e o Ministério da Economia sobre o auxílio emergencial e sobre a proposta de orçamento fez o touro recuperar o fôlego, voltando aos 102.298 pontos no dia 25 de agosto, mas não resistiu ao forte processo de realização de lucros no exterior, puxado, principalmente, pelas empresas de tecnologia, as chamadas “Faang” (Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google/Alphabet, com mercado voltando a perder força e fechar o mês em 99.369 pontos, com uma desvalorização de 3,44% em agosto.

O encaminhamento da proposta de reforma administrativa ao Congresso Nacional amorteceu o ânimo do urso, ainda influenciado pelo movimento das bolsas internacionais, com o mercado fechando a sexta-feira(5) em 101.242 pontos, negativo na semana, mas acima do mínimo.

Os próximos rounds da luta entre touros e ursos poderão ser definidos em função da capacidade de recuperação das bolsas internacionais, das sinalizações dadas pelo Palácio do Planalto em torno da gestão fiscal e de como os investidores irão receber a avalanche de novas ofertas de ações que deverão vir a mercado nos próximos meses. Segundo o mercado existem mais de 40 pedidos em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O dólar Ptax teve comportamento similar ao do mercado de ações:

No fechamento do mês o dólar Ptax fechou em R$ 5,4713, com uma valorização de 5,15% no mês, cedendo um pouco na sexta-feira, 05 de setembro, quando fechou em em R$ 5,2848.

Em relação ao coronavírus, no sábado, às 20h, o Brasil registrou 126.230 mortes confirmadas. Com isso, a média móvel de novas mortes nos últimos 7 dias foi de 819 óbitos, uma variação de -17% em relação aos dados registrados em 14 dias, sendo a primeira vez que apresentou esta variação. Os casos confirmados totalizaram 4.121.203 desde o começo da pandemia.

* Professor do DCCA da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, Doutor em Administração, com ênfase em Finanças e Mestre em Economia pela UFRGS.