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Panorama: Mar calmo não faz bons marinheiros

14 de julho de 2020

12 de julho de 2020

Marco Antônio dos Santos Martins(*)

 

O IBOVESPA encerrou a última sexta-feira (10) em 100.032 pontos, com uma alta de 5,23% no mês e reduzindo as perdas do ano para 13,5%. O índice voltou próximo aos patamares de 06 de março, quando abriu a seção em 102.230 pontos e encerrou o dia a 97.997 pontos, iniciando uma trajetória de queda que em apenas nove pregões empurraria o índice para 66.895 pontos, perdendo 34,5% entre o dia 5 e o dia 18 de março.

Naqueles dias, em que muitos investidores enfrentavam a sua primeira crise no mercado de ações, o melhor conselheiro de investimentos eram os velejadores, que em suas viagens sabem que as tempestades sempre passam, que elas fazem parte da vida, e que ter um bom barco e um bom sistema de informações meteorológicas ajudam a manter a calma para melhor enfrentar as ondas, pois como diz um dito antigo “mar calmo não faz bons marinheiros”. O gráfico a seguir mostra a evolução no ano do IBOVESPA.

 

 

Passadas exatas 79 seções desde aquele fatídico 18 de março, com uma valorização de 49,5%, taxa Selic em 2,25% ao ano, inflação sob controle, incentivos fiscais e monetários, proximidade da vacina e relaxamento do isolamento social, os investidores são tomados por uma certa dose de exagero em suas projeções, por um sentimento de “olha o movimento de alta que eu perdi”, ou ainda, a simples e velha inveja dos amigos que aproveitaram a crise para ir às compras, o que pode levá-los a correr atrás do mercado de forma precipitada. Mais uma vez, vale recorrer a experiência dos velejadores, seguindo o conselho de sempre ficar muito atento aos perigos das águas tranquilas e do vento a favor, evitando um “jibe acidental”.

O “jibe”, também conhecido como cambada em roda ou virada em roda, é uma manobra feita para mudar a direção do barco com a proa a favor do vento. Trata-se de uma manobra arriscada, já que, com uma maior velocidade do vento e navegando-se a favor dele, o barco ganha impulso com mais facilidade e há risco da retranca, ou seja, que tubo horizontal que sustenta a vela golpeie a tripulação com a rápida mudança de lado. No “jibe acidental”, em uma velejada tranquila e rápida com vento a favor, o melhor vento para se velejar, um pequeno descuido no controle do leme e o barco sai da linha do vento, com a vela mudando de lado de forma brusca e a retranca atravessando o convés em alta velocidade, jogando tripulantes ao mar e muitas vezes quebrando o mastro principal.

Assim, o movimento de recuperação dos preços das ações demonstra ser consistente no longo prazo, mas precisa ser analisado com toda cautela, pois, como na vela, o risco de “jibe acidental” pode surpreender os investidores, principalmente, quando ainda temos um bom nível de incerteza associado ao ritmo de recuperação da atividade econômica, a indefinição do cenário eleitoral nos Estados Unidos e a elevada taxa de desemprego e situação fiscal brasileira. A principal expectativa continua sendo a chegada da vacina e o desafio de curto prazo é tentar conter o forte ritmo de contaminação pelo novo coronavírus em estados dos EUA, no Brasil e até mesmo na Ásia.

O Brasil, por exemplo, segundo o boletim das 13h de domingo (12) do consórcio de veículos de imprensa registra 71.584 mortes e 1.846.249 casos. Já em Hong Kong as escolas estão sendo fechadas novamente, de acordo com uma reportagem da mídia local, porque houve aumento nos casos de Covid-19 após um longo período sem infecções, o que forçou o governo a restabelecer as restrições que foram afrouxadas.

Em linhas gerais, cabe ao investidor manter suas posições diversificadas em setores da economia com alto nível de resiliência à crise, realizar lucros de posições adquiridas na crise e aproveitar a volatilidade para aumentar sua exposição ao risco.

Uma boa notícia da semana foi a divulgação do IPCA-IBGE de junho que foi de 0,26%, melhor do que a expectativa do mercado que era de 0,30%. Desta forma, o indicador acumula alta de 0,10% no ano, enquanto o acumulado em 12 meses é de 2,13%, acima dos 1,88% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em junho de 2019, a taxa havia ficado em 0,01%.

De acordo com o IBGE, dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, sete apresentaram  alta  em  junho.  O   maior   impacto   (0,08   ponto   percentual)   veio de Alimentação e bebidas (0,38%), que acelerou em relação ao resultado de maio (0,24%). A segunda maior contribuição (0,06 p.p.) veio dos Transportes, cujos preços subiram 0,31% após a queda de 1,90% em maio.

Outros destaques foram os grupos Artigos de residência (1,30%), que apresentou a maior variação positiva  no  índice  do  mês,  e Saúde  e  cuidados pessoais (0,35%). No lado das quedas, destaca-se a variação de Vestuário (-0,46%), que contribuiu com -0,02 p.p. no índice de junho. Os demais grupos ficaram entre a queda de  0,05%  ocorrida  em Despesas  pessoais e  a  alta  de  0,75%  registrada  no  setor  de Comunicação.

Na mesma linha de entusiasmo do IBOVESPA, o dólar PTAX fechou a semana cotado a R$ 5,344, com uma desvalorização de 2,41% no mês, mas ainda acumulando uma alta de 32,58% no ano.

Já o entusiasmo do mercado de renda fixa é mais tímido que vivido na bolsa e no câmbio, com o que a demanda por Letras do Tesouro Nacional (LTN) e por Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F) permanece limitada à parte curta da curva. As taxas das NTN-Bs mais longas estão sendo negociadas na faixa dos 3,90% a.a., inferior aos 4 a 4,2% de algumas semanas, mas não estão acompanhando o movimento de queda nas taxas de curto prazo.

 

(*) Professor do DCCA da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, Doutor em Administração, com ênfase em Finanças e Mestre em Economia pela UFRGS.